ECONOMIA Por EDUARDO GUERINI
A erosão da esperança brasileira
“Neste país a moralidade é profundamente baixa.” J. E. Pohl (Botânico, 1817)
A temperatura política brasileira se eleva em proporções desastrosas diante da polarização que se iniciou no segundo mandato de Dilma Rousseff, se potencializou com o processo de impeachment num cenário de descalabro econômico-fiscal, enveredando para a condenação do ex-Presidente Lula. Para cada novo lance do quadro de degradação das lideranças partidárias, a palavra injustiça serve como antídoto contra dos desvios praticados.
O mandato tampão de Michel Temer e sua aliança conservadora pretendia ser uma ponte para o futuro, mas não passa de uma gestão de ocasião para manutenção das forças retrógradas alimentadas pela agenda do mercado.
A coalização política sucumbe a cada nova indicação dos partidos da base governista, orquestrados em interesses particularistas, reformas estruturais que solapam direitos sociais, e, sabidamente, os resultados econômicos, da geração de empregos ao crescimento do PIB, investimentos públicos e privados, traduzem a histórica tendência do Brasil engendrar um novo “voo de galinha” para o PIB.
O desarranjo político-institucional, com apoio de partidos conservadores, corrompidos e degenerados, somente se mantém na base do cooptação de parlamentares num Congresso Nacional rejeitado pela maioria da população e na agenda de reformas postas em marcha forçada por Michel Temer, alicerçado na leitura ortodoxa do monetarismo periférico de Henrique Meirelles.
Daí uma comemoração suntuosa pelos governistas de ocasião e mídia ufanista, vendendo otimismo frente uma retração de 20.832 postos de trabalho em 2017. Nenhuma relação com o esgotamento da geração de empregos formais e crescente informalidade que grassa dois terços da população brasileira, e, a famigerada reforma trabalhista que não alavancou postos formais, aprofundando a precarização e desalento dos trabalhadores.
Nem mesmo a inflação de 2,95% em 2017, garantiu otimismo para os brasileiros, dado que, a maioria dos preços administrados subiu acima da média dos indicadores de preços. Para 2018, a tendência dos níveis inflacionários é voltar ao centro da meta (4,5% a.a.), com crescimento do PIB previsto de 2%, atenuando pontualmente as taxas de desemprego.
A espiral de autodegradação, o desalento cívico, o cansaço do embate político-partidário permite uma sobrevida ao projeto reformista-conservador de Michel Temer, apesar da elevada taxa de corrupção de seus ministros e ministério. Neste contexto, o pragmatismo político vence as utopias e resistências possíveis para Reforma Previdenciária, tal como aconteceu na Reforma Trabalhista.
Na ausência de protagonismo de movimentos sociais, políticos, e, especialmente do movimento sindical, se multiplicam as incertezas e se eleva a erosão das esperanças em relação a uma vida digna no futuro para os brasileiros e as brasileiras. Eis o torpor da sociedade brasileira no tempo presente, animada por suportar as injustiças, diante da desgraça de não tê-las cometida.