ECONOMIA
Por EDUARDO GUERINI
Por quem as estatísticas dobram?
Quem parte e reparte e não fica com a maior parte, ou é tolo, ou não tem arte. (Provérbio Luso-Brasileiro)
Em matéria intitulada “Mais universitários trancam curso do que concluem graduação”, veiculado no site da Folha de São Paulo no dia 07/03/2016, sugestivamente o jornalista se precipitou em conclusões retiradas das sinopses da educação superior brasileira no período de 2010-2014. Na tentativa de “fazer do bife um boi” , justificando o título , destaca-se o despreparo metodológico e falta de averiguação de tendências sobre a dinâmica de matrículas, evasão, trancamento e conclusão de alunos em cursos superiores.
Toda vez que uma tarefa de análise constituir-se no estabelecimento de comparações entre diferentes determinações de uma ou mais variáveis para medir variações entre períodos de tempo, lugares ou características dessas variáveis, a técnica estatística requer o conhecimento de interpolações de valores, quantidades ou preços. Nosso incauto jornalística em expediente “sui generis” de maneira despropositada lançou aos leões, valores absolutos sem qualquer correlação com o período histórico informado, e, sequer buscou informações das tendências das corporações privadas que controlam aproximadamente 90% das IES – Instituições de Ensino Superior e cerca de 75% das matrículas totais.
Partindo de traquinagens numéricas e percentuais, esquece o astuto jornalista que o preparo das variáveis, o entendimento das tendências do “mercado de ensino superior” tem algumas particularidades que exorbitam a simples determinação absoluta. Destacando que o crescimento das matrículas em cursos superiores, ainda que, em menor velocidade que a primeira década do século XXI, no período de 2010-2014, o crescimento girou em torno de 16%, ou seja, um média de aproximadamente 3,01% ao ano. Comparado ao crescimento da economia brasileira, o otimista vibraria e o pessimista recomendaria cautela.
Como as estatísticas servem para justificar determinadas realidades, nosso “torturador numérico”, recorreu aos dados do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira para demonstrar como a matéria é tendenciosa e distante da realidade. No período destacado as matrículas no ensino superior aumentaram de 5, 4 milhões de alunos para 7,9 milhões, com média de crescimento próximo a 9% ao ano. É inegável que o universo absoluto tenderia a exortar um gama crescente de problemas estruturais e estruturantes para o ensino superior público e privado, que interferem na qualidade dos cursos ofertados diante da velocidade da expansão.
No quesito alunos “concluintes” do ensino superior, as variações são diretamente relacionadas ao número de ingressantes no período anteriormente verificados na matéria, desta forma, o encadeamento das tendências não apresenta discrepância, mantendo uma correlação entre média setorial e instituições privadas. O resultado das instituições públicas é fruto de uma política expansionista, daí uma tendência de média superiores em relação ao universo privado.
Na questão de trancamentos de alunos do ensino superior, sejam eles provenientes das instituições públicas e privadas, a tendência catastrófica apontada como um “rombo” não passou de uma análise em base fixa, quando deveria se destacar em tal período as variações médias que não ultrapassaram 18, 91% em termos gerais, queda de 21,95% nas universidades públicas, e, aumento de trancamentos de 30,09 % nas instituições privadas.
Finalmente, nosso prestimoso jornalista aponta a crise econômica e situação de gravidade para nas universidades privadas diante do cenário de aumento relativo de trancamentos em relação aos concluintes de graduação superior. O atento analista esqueceu de verificar nos relatórios institucionais das grandes corporações privadas que detem aproximadamente 50% das matrículas no ensino superior que a crise passa longe do cenário apresentado na matéria, com crescimento da base de alunos matriculados, controle da evasão, e, pasmem, resultados operacionais de geração de fluxo de caixa extraordinário, com resultado no lucro superior ao ano de 2014.
Se tendemos acreditar no que é conveniente, as manobras numéricas de nosso laborioso jornalista esbarram na seguinte indagação final, por quem as estatísticas dobram?
